sexta-feira, 10 de julho de 2009

A Revolução Constitucionalista de 1932

Ontem foi 9 de julho, comemeoração estadual da Revolução Constitucionalista de 1932. A imprensa noticiou o fato histórico em notas curtas. Resolvi refletir um pouco a respeito, revisitando notas antigas, livros e sites da internet. Trata-se de fato curioso, durou cerca de 90 dias e ocasionou a morte de inúmeras pessoas. Uns dizem que foi movimento elitista, mas a história faz questão de vinculá-la a ampla participação popular. Fiquei me questionando se a população do incipiente estado industrial, essencialmente agrária, mas em transição para o modo de vida proletário, tinha educação e conhecimento suficiente para se engajar conscientemente em prol de um movimento constitucionalista.

A idéia de Constituição traz o germe da contenção de poderes, com a estruturação política (espacial e de poder) do Estado. Hoje em dia, poucos cidadãos sabem o que é realmente uma Constituição. O senso comum não sabe distinguir os conceitos de uma portaria, de um decreto e da Cosntituição Federal. Por que o povo naquela época saberia? Bem ou mal, foram cooptados pelos interesses políticos da elite bandeirante.

Mas tal constatação não retira da data seu valor democrático. Consciente ou não, o povo paulista, derrotado nas armas, contribuiu para colmatar a idéia de necessidade de uma Constituição como norma estruturante do Estado Brasileiro. A vitória foi, portanto, ideológica.

A revolução de 1930 basicamente impediu a posse de Julio Prestes (governador de São Paulo) na Presidência da República, que ascenderia ao Poder rompendo a politica do café-com-leite da República Velha. A preterição do candidato de Minas Gerais, ocasionou a aliança de Minas com Rio Grande do Sul e Paraíba no Congresso Nacional, com formação da Aliança Liberal e a indicação de Getúlio Vargas, Ministro da Fazenda da Presidência de Washington Luis, como candidato à Presidência da República.

A derrota de Getúlio nas urnas foi acachapante, e as denúncias de fraude eleitoral ocorreram para ambos os lados, embora se tenha notícia de que Julio Prestes, do Partido Republicano Paulista e vencedor do pleito presidencial, contava com o apoio de 17 estados e com o voto de mais de 90% do eleitorado paulista. Eleito em 1.º de maio de 1930, não tomou posse.

A Aliança Liberal em 3/10/1930 tomou os três Estados de origem (MG, RS e PB) e rumou com tropas para a Capital Federal. Em 24/10/1930 ocorre o triunfo da Revolução de 1930, o golpe militar comandado por comandantes militares no Rio de Janeiro depõe Washington Luis e entrega em 3/11/1930 o Poder a Getúlio Vargas, instalando-se no Brasil um Governo Provisório, sem constituição, nos moldes de uma verdadeira ditadura.

São Paulo perde autonomia, fato que não melhora sequer com a nomeação por Getúlio Vargas de interventor paulista no Estado.

Em 25/01/1932 um meeting (comício) na Praça da Sé reúne cerca de 200.000 pessoas em torno de ideais constitucionalistas. Em fevereiro do mesmo ano, os Partidos Republicano e Democrático de São Paulo se unem para exigir o fim da ditadura e do governo provisório.

o Governo de Getúlio, amparado por inúmeros políticos interventores que não eram paulistas, gerava em São Paulo a sensação de que revolta se dera contra o Estado, criando no povo a sensação de "conquistados". A morte dos estudantes (MMDC) recrudesce o movimento.

O povo pega em armas e a revolução ocorre, embora na verdade São Paulo, que acreditava contar com o apoio de outros estados, se veja praticamente sitiado pelas tropas de Vargas.

O isolamento de São Paulo no conflito gerou situações inusitadas como o uso da matraca (instrumento utilizado para reproduzir os estampidos de uma metralhadora e assim assustar os inimigos) e a criação praticamente artesanal de armas e veículos de guerra (a exemplo do carro blindado criado pela USP).

A revolução de 1932 está retratada em muitas cidades do interior de São Paulo (vide foto, Ribeirão Preto - SP) e na capital, a exemplo do obelisco no Parque do Ibirapuera.

O fato, a exemplo de tantos outros, desmente o lugar comum de que o Brasil não teve conflitos. Trata-se de um dos capítulos de nossa história constitucional que precisa ser cultivada, a fim de propiciar o adensamento de práticas democráticas atreladas ao ideal de formação de um Estado Democrático e Humanitário de Direito.

2 comentários:

  1. Bom dia Lucas. Estou te escrevendo no dia 24 de fevereiro de 2010 pois somente hoje vi seu comentário sobre a Revolução de 32 postado ano passado. No ano 2000 elaborei um projeto denominado "Cruzeiro, a Capital da Revolução Constitucionalista de 1932", visando ressaltar a importante participação da cidade nos mais cruciais eventos desse conflito. Em 2002 esse trabalho transformou-se em lei municipal (n. 3635) o que possibilitou a partir daí a realização de grandes eventos evocando a memória da revolução em nossa cidade e região. Em 2008 a cidade de Cruzeiro passou a ser reconhecida oficialmente em âmbito estadual (lei n.13203) com esse honroso título honorífico e em 2009 solicitei ao Deputado Federal Francisco Rossi que apresentasse o mesmo projeto na Câmara Federal, e que já tramita nos dias de hoje naquela casa de leis. Mais do que almejar uma honraria, hoje percebo que estava no caminho certo ao lutar pelo reconhecimento da cidade de Cruzeiro como destaque no contexto da revolução pois há no país atualmente uma revisão da importância histórica dessa guerra, inclusive em 2006 foi criada pelo sociólogo joseense Roberto Gonçalves a "Caminhada Nove de Julho, 912 km de Amor à São Paulo" que reúne anualmente um grupo de cidadãos com o intuito de divulgar aos jovens os ideais de democracia e liberdade imbutidos no cerne do conflito, e que percorrem esse trecho passando por cerca de 40 cidades de nosso estado e chegando no dia 09 de Julho em Cruzeiro para participar do desfile cívico-militar e de uma emocionante sessão de Câmara Municipal. Se necessitar de mais informações sobre o exposto contate-me pelo e-mail: sergioelache@hotmail.com. Um grande abraço, fique com Deus.

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  2. É muito interessante como os facistas do governo de Vargas dão um Grã finale à revolução deixando claro o eterno jogo do PODER que envolve as grandes revoluções!!

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